Roteiros para Curtas sem Diálogos: Como Contar Histórias Marcantes Apenas com Imagens

Você já parou para pensar no poder que as imagens têm de contar histórias, mesmo quando nenhuma palavra é dita? Os curtas-metragens sem diálogos exploram exatamente essa força do cinema: a capacidade de emocionar, surpreender e provocar reflexões apenas por meio da linguagem visual. Nesse tipo de produção, os roteiristas e diretores se desafiam a criar mundos, personagens e sentimentos que se comunicam diretamente com o público, independentemente de idioma, localização geográfica ou barreiras culturais.

A narrativa visual é uma das essências do cinema desde seus primórdios. Antes mesmo da chegada do som aos filmes, cineastas já eram especialistas em transmitir mensagens complexas utilizando elementos como expressões, gestos, cenários e movimentos de câmera. Em tempos atuais, mesmo com tantas tecnologias e efeitos, muitos criadores voltam os olhos para essa forma pura e instintiva de storytelling, provando que, às vezes, o silêncio fala mais alto do que qualquer diálogo.

Neste artigo, você vai descobrir como criar roteiros para curtas sem diálogos, aprendendo técnicas para contar histórias envolventes apenas com imagens. Vamos falar sobre a escolha dos elementos visuais, o desenvolvimento das cenas, o uso das emoções e muito mais. Ao final, você terá dicas práticas e referências inspiradoras para começar a esboçar seu próprio projeto — e verá por que esse tipo de curta pode ser seu próximo grande desafio criativo. Ficou curioso? Então continue lendo e mergulhe no universo das histórias contadas pelo olhar e pelo silêncio!


O Que São Curtas Sem Diálogos?

Os curtas-metragens sem diálogos constituem um gênero fascinante dentro do universo cinematográfico. Mais do que apenas filmes curtos sem fala, eles representam uma escolha estética e narrativa que resgata as raízes do cinema e desafia roteiristas, diretores e equipes de produção a engajar o público exclusivamente por meio da imagem, da linguagem corporal dos atores, da trilha sonora e dos efeitos sonoros. A ausência de diálogos não limita o potencial narrativo — pelo contrário, obriga a buscar novas formas criativas de expressão, tornando tudo que aparece na tela fundamental para a compreensão da história.

###Uma Breve História dos Curtas sem Diálogos

O poder de contar histórias sem palavras é, na verdade, uma das bases do cinema. Durante a chamada era do cinema mudo, entre o final do século XIX e o início do século XX, todos os filmes eram produzidos sem som síncrono. Obras como “A Chegada de um Trem na Estação” (1895), dos irmãos Lumière, ou os clássicos de Charles Chaplin e Buster Keaton, mostraram que emoções universais podiam ser sentidas e compreendidas apenas com imagens, expressões faciais e trilhas musicais marcantes. A técnica desenvolvida naquela época influenciou profundamente todas as gerações de cineastas que se seguiram.

Com a popularização do som sincronizado nos filmes, a partir do final da década de 1920, o diálogo verbal se tornou o centro das narrativas. No entanto, muitos diretores e roteiristas nunca abandonaram a ideia da comunicação visual como principal aliada do enredo. Os curtas sem diálogos, nesse contexto, são herdeiros diretos dessa tradição, mas com as vantagens das tecnologias digitais e da experimentação artística moderna.

Exemplos Famosos e Impactantes

Ao longo da história, diversos curtas-metragens sem falas conquistaram projeção internacional e emocionaram públicos de todas as idades e culturas. Dentre os exemplos recentes, destaca-se “Piper”, da Pixar, vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação em 2017. O filme narra, em detalhes delicados e expressivos, a história de um filhote de passarinho enfrentando a força das ondas para aprender a se alimentar. Toda a evolução emocional do personagem é transmitida pelo olhar, pelos sons ambientes e pelo trabalho cuidadoso de animação, demonstrando como imagens podem comunicar medos, superações e alegrias sem nenhuma fala.

Outro exemplo é “Feast” (“O Banquete”), também da Disney, que conta, através da perspectiva de um cachorro, a trajetória da relação entre ele e seu dono, marcada por mudanças, pequenos conflitos e grandes momentos de ternura. O espectador é conduzido pela narrativa visual, centrada nos detalhes da comida e do comportamento dos personagens.

No cenário clássico, “O Balão Vermelho” (Le Ballon Rouge), dirigido por Albert Lamorisse em 1956, é uma das maiores referências mundiais quando se fala em narrativa visual. O filme acompanha um garoto e seu inusitado amigo: um balão vermelho que parece ter vida própria. Ao longo dos planos, o diretor usa o balão como símbolo de liberdade, inocência e imaginação, criando uma conexão sentimental com o público sem recorrer a falas.

Outras obras de destaque são “Signs” (2008, Patrick Hughes), em que dois colegas de trabalho se apaixonam trocando apenas bilhetes e olhares, e “Paperman” (2012, Disney), onde a narrativa romântica se desenvolve por meio de gestos, expressões e uma animação elegante em preto e branco.

Subgêneros e Abordagens Criativas

Embora o termo “curtas sem diálogos” remeta à ausência de fala, esse conceito pode abranger diferentes subgêneros e estilos visuais:

Animação: Esse formato aproveita o domínio absoluto dos criadores sobre cada detalhe da imagem. Curtas animados, como “The Present” (2014) e “La Luna” (2011), exploram a expressividade dos personagens e a magia dos cenários para criar atmosferas tocantes sem palavras.

Live-action: Produções com atores também exploram esse universo, muitas vezes lançando mão de atuações minimalistas, movimentos corporais cuidadosamente coreografados, e recursos como a mise-en-scène, a iluminação e a sonoplastia.

Experimental: Alguns curtas sem diálogos usam técnicas como montagem acelerada, abstração visual ou intervenções gráficas, apostando na força simbólica das imagens para produzir interpretações abertas ou sensoriais.


O Grande Desafio: Contar sem Falar

Escrever e produzir um curta-metragem sem diálogos é um exercício de síntese, criatividade e domínio técnico. O maior desafio é garantir que tudo aquilo que desejamos transmitir na história fique explícito — ou, pelo menos, sugerido — sem a exposição tradicional dos diálogos. Para isso, roteiristas precisam pensar de forma visual: cada atitude, reação, expressão ou elemento de cena deve possuir significado narrativo.

Esse esforço exige:

Clareza na construção de personagens: Os protagonistas e coadjuvantes devem ter personalidades e motivações compreensíveis por meio da atuação e dos sinais visuais, sem precisar explicar sentimentos ou intenções em palavras.

Cuidado com a progressão dramática: O roteiro precisa evoluir de forma orgânica e compreensível, sem confundir ou perder o espectador.

Valor à trilha sonora e efeitos sonoros: Sons, silêncio, música ambiente e ruídos são elementos que ampliam ou suavizam emoções, orientam a interpretação das cenas e capturam a atenção do público.


A Beleza e o Impacto dos Curtas sem Diálogos

Apesar das dificuldades, o universo dos curtas sem diálogos possui uma beleza única: ao rejeitar a palavra falada, eles abrem espaço para múltiplas interpretações, convidando cada espectador a se conectar emocionalmente e a enxergar a história através de suas próprias vivências. A ausência de diálogo muitas vezes faz com que a narrativa assuma contornos mais universais, acessíveis a públicos de qualquer nacionalidade ou contexto socioeconômico — afinal, expressões como alegria, tristeza, surpresa e medo são compreendidas em qualquer canto do planeta.

Este tipo de obra proporciona ainda uma experiência estética intensa e focada, onde cada detalhe visual ou sonoro tem grande importância. O silêncio, longe de ser uma ausência, ganha protagonismo: é na pausa, no olhar, no movimento sutil dos personagens, que a emoção cresce e a história se revela.

Cabe ressaltar que muitos curtas sem diálogos acabam se tornando portais de experimentação para novos cineastas e roteiristas, pois exigem domínio das bases do storytelling cinematográfico, além de contribuir para a construção de um olhar mais sensível e criativo

A escolha de criar um curta-metragem sem diálogos é, portanto, mais do que uma limitação: é uma verdadeira declaração de amor à essência do cinema, capaz de emocionar e surpreender apenas com imagens poderosas — e de provar que, muitas vezes, tudo o que não é dito é o que mais fica na memória do público.


Por Que Apostar em Curtas sem Diálogos?

A escolha de investir em curtas-metragens sem diálogos vai muito além de uma decisão estética; ela traz benefícios concretos para roteiristas, diretores e produtores. Um dos grandes trunfos desse formato é a sua universalidade. A linguagem visual, composta por imagens, gestos e expressões, é compreendida por pessoas de qualquer parte do mundo, independentemente do idioma. Quando uma história é construída predominantemente através de signos visuais, ela se torna capaz de atravessar fronteiras culturais e linguísticas, tocando diferentes públicos com a mesma intensidade.

Esse caráter universal faz dos curtas sem diálogos fortes candidatos em festivais internacionais. Muitas mostras valorizam obras que conseguem conectar plateias globais sem a necessidade de legendas ou dublagens, o que facilita a circulação e amplia o alcance dessas produções. Filmes visualmente impactantes e universalmente compreendidos têm mais chances de serem selecionados e de obter reconhecimento internacional, mostrando que o talento dos criadores pode ser apreciado em múltiplos mercados.

Além disso, desenvolver um roteiro e produzir um curta sem falas é um verdadeiro exercício criativo — tanto para quem escreve quanto para quem dirige e atua. Exige pensar fora dos padrões tradicionais, explorando novas formas de compor cenas, transmitir emoções e construir personagens. Essa prática leva à experimentação, aprimora o uso dos recursos audiovisuais e desafia os limites da criatividade, fatores essenciais para a evolução artística de qualquer profissional do cinema.

Outro ponto de destaque é a acessibilidade. Curtas sem diálogos ultrapassam camadas de exclusão: surdos, pessoas com diferentes graus de alfabetização e públicos que consomem conteúdo em ambientes onde o som é limitado podem assistir, entender e se emocionar plenamente. Com menos barreiras, essas obras promovem inclusão, tornando-se exemplos de produtos culturais democráticos e verdadeiramente universais. Apostar nesse formato é abrir portas para novas experiências e públicos, consolidando o poder do cinema como linguagem global.


Como Escrever Roteiros para Curtas sem Diálogos

A escrita de roteiros para curtas-metragens sem diálogos exige uma abordagem diferenciada, onde cada elemento visual assume papel fundamental na condução da narrativa. O ponto de partida está no significado e foco das ações: em vez de falas explicativas, são as atitudes dos personagens que revelam suas intenções, sentimentos, conflitos e transformações ao longo da trama. Uma pequena ação — como hesitar antes de atravessar uma porta, um suspiro profundo, ou mesmo o modo de arrumar a mesa de jantar — pode ser carregada de significado, substituindo frases inteiras e tornando-se elo narrativo entre o público e a história.

Na construção de cenas e sequências, vale aplicar os princípios clássicos do “mostrar, não contar”. Em roteiros sem falas, o desenvolvimento do enredo ocorre na sucessão de imagens, gestos e reações, onde o público é convidado a interpretar e sentir junto aos personagens. A montagem torna-se uma aliada poderosa: ao alternar olhares, detalhes de objetos, movimentos e mudanças no ambiente, é possível criar uma progressão dramática fluida, sem a necessidade de verbalizar acontecimentos ou emoções.

A gestualidade e as expressões faciais dos atores ganham protagonismo. É fundamental valorizar performances sutis, nas quais olhares, sorrisos discretos, lágrimas contidas ou mãos trêmulas contam mais que qualquer diálogo. O roteiro deve explicitar, no mínimo, as emoções esperadas em cada momento, deixando espaço para a criatividade dos intérpretes e da direção para traduzir cada sentimento em movimento.

O cuidado com cenários e objetos de cena (props) também é indispensável. Cada ambiente, cor, textura ou elemento presente em cena pode ser usado como uma extensão do pensamento e do histórico dos personagens. Objetos comuns podem adquirir significados simbólicos — um relógio parado, uma flor murcha, uma parede rabiscada — e enriquecer a narrativa, sugerindo conflitos e memórias.

Para garantir a autenticidade do curto, é essencial evitar clichês visuais. Repetir símbolos batidos do cinema, como lágrimas caindo ou portas rangendo em suspense, pode soar artificial. Busque novas perspectivas, referências culturais menos óbvias e maneiras originais de destacar sentimentos e situações. Observe o cotidiano, inspire-se em pequenas cenas reais, estude linguagens visuais de outras culturas e experimente combinações de elementos inusitados.

Ao escrever roteiros para curtas sem diálogos, priorize o pensamento visual e emocional. Permita que o espectador mergulhe na história através dos sentidos, tornando cada plano significativo, envolvente e único.


Elementos-Chave para Narrativas Visuais Fortes

Para que um curta-metragem sem diálogos realmente encante e envolva o espectador, não basta apenas contar uma boa história: é preciso dominar uma série de elementos visuais e sonoros capazes de transmitir emoções e criar atmosferas marcantes. O uso das cores e da iluminação é um dos pilares dessa narrativa visual. Cores quentes como vermelho e amarelo podem sugerir paixão, alegria ou até tensão, enquanto tons frios, como azul e cinza, remetem à tristeza, solidão ou introspecção. A iluminação, por sua vez, pode realçar sentimentos: luzes suaves transmitem calma e aconchego, já iluminação dura ou contrastada pode acentuar dramaticidade, mistério ou conflito. Experimente, por exemplo, contar uma mesma cena mudando apenas a paleta de cores ou o tipo de luz – a sensação transmitida será completamente diferente, influenciando diretamente o envolvimento do público.

O ritmo e o tempo das cenas são igualmente importantes. Uma montagem rápida, cheia de cortes dinâmicos e planos curtos, cria uma atmosfera de agitação, urgência ou ansiedade. Já sequências mais longas, filmadas com poucos cortes e tomadas prolongadas, proporcionam ao público tempo para observar detalhes, absorver sentimentos e contemplar as nuances do momento. O ritmo da edição pode acompanhar o estado emocional do personagem ou o clima da história, conduzindo o espectador por picos de emoção e momentos de respiro.

A trilha sonora e a sonoplastia são recursos essenciais na narrativa sem falas, funcionando como verdadeiras “vozes” emocionais dos personagens e da trama. Uma música suave pode sugerir delicadeza e esperança, enquanto batidas intensas criam tensão ou suspense. Sons diegéticos, como chuva batendo na janela, passos apressados, o ranger de uma porta ou o vento soprando, potencializam a imersão e ajudam a criar atmosferas únicas. O silêncio, frequentemente subestimado, também tem força narrativa: momentos silenciosos podem ampliar o impacto emocional ou sinalizar mudança de tom na história.

Entre os recursos visuais práticos que potencializam o storytelling, destacam-se planos fechados em detalhes simbólicos (um anel nas mãos de alguém, uma foto antiga como centro de uma cena), movimentos de câmera acompanhando a perspectiva dos personagens, jogos de sombra para criar suspense ou revelar segredos, e a composição cuidadosa dos elementos no quadro para guiar o olhar do público. O uso criativo desses elementos permite construir narrativas visuais ricas, cheias de camadas e significados, transformando cada curta sem diálogo em uma experiência profunda e memorável.


Inspirações e Referências de Curtas Sem Diálogos

Buscar inspiração em curtas-metragens sem diálogos reconhecidos é uma etapa fundamental para qualquer roteirista ou cineasta que deseja dominar essa linguagem. Analisar obras-primas do gênero não apenas desperta a criatividade, mas também revela estratégias narrativas, escolhas estéticas e soluções inovadoras usadas para emocionar e envolver o público sem falas. A seguir, confira uma seleção de referência, com comentários sobre o diferencial de cada curta, além de dicas de como aproveitar esses exemplos para aprimorar o seu próprio roteiro.

“Piper” (2016) – Pixar Animation Studios

Vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação, “Piper” narra a trajetória de um filhote de pássaro que precisa aprender a buscar comida à beira-mar. O diferencial da obra está na perfeição técnica da animação, que imprime realismo à água, à areia e à penugem dos personagens, e especialmente na capacidade de transmitir emoções universais — medo, curiosidade, superação — apenas com olhares e movimentos corporais. Tudo é visual e sonoro, desde a trilha leve e envolvente até a atuação impecável dos personagens animados.

“O Balão Vermelho” (Le Ballon Rouge, 1956) – Albert Lamorisse

Clássico absoluto, esse curta acompanha a amizade entre um menino e um balão aparentemente vivo pelas ruas de Paris. Seu grande diferencial é o simbolismo: todo o relacionamento se constrói sem uma palavra, explorando o contraste de cores, os cenários urbanos e a expressão corporal do protagonista para materializar sentimentos como afeto, solidão e liberdade. O uso do balão como elemento central guia toda a narrativa visual, tornando-se metáfora da infância e da imaginação em estado puro.

“Paperman” (2012) – Walt Disney Animation Studios

Misturando animação tradicional em preto e branco com toques de 3D, “Paperman” narra uma história de amor casual entre dois desconhecidos, conectados por aviõezinhos de papel em pleno ambiente urbano. O diferencial está no ritmo fluido, na utilização dos papeis voadores como elo simbólico entre os protagonistas e no uso primoroso da música para criar atmosfera e direcionar as emoções do espectador. Sem jamais recorrer a falas, o curta constrói expectativa, suspense e ternura a cada gesto e olhar.

“Signs” (2008) – Patrick Hughes

Este curta australiano se destaca pelo uso criativo de bilhetes e placas escritas para que dois personagens, isolados em seus escritórios, desenvolvam uma relação. Os atores comunicam insegurança, esperança e alegria apenas com expressões faciais e pequenos gestos, enquanto a narrativa visual utiliza o espaço físico e os objetos simples do cotidiano para criar identificação com o público.

Como analisar essas referências

Após assistir atentamente cada curta, anote quais emoções você sentiu e quais recursos visuais e sonoros contribuíram para isso. Observe como gestos, cenários, cores e trilha sonora se combinam para criar significado. Repare em detalhes: a movimentação da câmera, a montagem, o objetivo dos objetos em cena, o ritmo dos acontecimentos. Ao estudar essas obras com olhar crítico, procure identificar quais técnicas poderiam enriquecer o seu próprio roteiro — e, a partir dessas inspirações, experimente criar cenas usando novos recursos, linguagem visual personalizada e soluções criativas para desafios de narrativa.

Estudar referências é mais que admirar belas histórias. É decifrar como a arte do silêncio e da imagem funciona no cinema, transformando o aprendizado em inovação para seus futuros projetos.


Exercícios Práticos para Iniciantes

Para quem está começando a criar roteiros para curtas sem diálogos, exercitar o pensamento visual e explorar a riqueza da linguagem não-verbal é essencial. A prática constante permite que roteiristas desenvolvam habilidades fundamentais, como a capacidade de transmitir emoção, intenção e transformação apenas com imagens, gestos e sons. Confira, a seguir, sugestões de exercícios práticos para incorporar à sua rotina de desenvolvimento criativo:

Escrever uma Cena Cotidiana Sem Falas: Escolha uma situação rotineira — como um café da manhã, a espera por um ônibus ou um reencontro inesperado — e escreva uma sequência completa sem permitir diálogos entre os personagens. Comece descrevendo seu protagonista: quem ele é, como se veste, qual seu estado emocional ao iniciar a cena. Em seguida, detalhe cada ação significativa. Mostre as escolhas do personagem com gestos, expressões e movimentos, pensando em como o público pode entender sentimentos e intenções só pela linguagem corporal. Por exemplo, o modo como alguém mexe uma colher na xícara pode sugerir ansiedade ou tranquilidade. Após escrever a cena, leia novamente e avalie: está claro o que cada pessoa sente e quer, mesmo sem falas? Se possível, peça para outra pessoa ler e explicar o que entendeu — assim você testa a eficácia da narrativa visual.

Adaptar Pequenas Histórias Populares para o Formato Visual: Selecione fábulas, contos tradicionais ou cenas conhecidas em que o diálogo é fundamental, e proponha-se a reescrever tudo apenas com imagens. Um exemplo prático: adapte a história da “Cigarra e a Formiga” sem permitir um único diálogo. Transforme todo o ensinamento desse conto — a preguiça da cigarra, a disciplina da formiga, a chegada do inverno, o desfecho — em ações, símbolos e imagens. Pense em detalhes como roupas, ambientes, objetos e sons que possam substituir as falas e ainda transmitir a mesma mensagem. Esse exercício expande sua capacidade de utilizar símbolos universais e reforça a importância de cada escolha visual.

Storyboard Mudo: Crie storyboards de cenas sem falas. Escolha uma situação ou história curta e a desenhe em sequências de quadros, focando nos planos, expressões e movimentos que levarão o espectador a entender o que está acontecendo. Não se preocupe com habilidades de desenho — use rabiscos simples, contanto que as ideias fiquem claras.

Observação e Análise: Faça sessões de observação cotidiana: assista às pessoas em um parque, café ou transporte público e anote como elas comunicam emoções, desejos e relações sem falar nada. Depois, transforme essas observações em minis cenas escritas ou desenhadas, experimentando formas de resgatar a essência da comunicação não verbal em roteiro.

Quanto mais você treina a escrita de cenas sem diálogos, mais fácil se torna captar e representar o poder do cinema silencioso. Estes exercícios não apenas desenvolvem técnica, mas também despertam a sensibilidade criativa que todo roteirista visual precisa aprimorar.


Dicas Finais para Roteiristas

Ao finalizar a criação de roteiros para curtas sem diálogos, alguns cuidados e práticas podem elevar muito a qualidade do resultado. O primeiro ponto fundamental é revisar o roteiro com o olhar de espectador. Após concluir o roteiro, afaste-se por um tempo e depois retorne ao texto como se fosse alguém que nunca teve contato com a história. Pergunte-se: as emoções e intenções dos personagens estão claras apenas com as ações e os detalhes visuais? Há pontos de ambiguidade que podem confundir ou dispersar o público? Esse distanciamento crítico permite que você identifique falhas, excessos ou lacunas, tornando o roteiro mais acessível, envolvente e impactante para quem vai assistir.

Outro aspecto que faz diferença é testar storyboards e animatics antes das filmagens. O storyboard é uma representação visual do roteiro por meio de quadros desenhados, enquanto o animatic monta esses quadros em sequência animada simples, muitas vezes incluindo trilha e efeitos sonoros provisórios. Esses recursos são valiosíssimos para aferir o ritmo, a clareza e o impacto visual da história antes mesmo de ir ao set. Eles ajudam a prever possíveis dificuldades de realização, ajudam a equipe a compreender a visão do roteirista e ainda permitem ajustes antecipados que podem economizar tempo e recursos nas filmagens. Mesmo para roteiros curtos, criar um storyboard é um exercício que revela oportunidades de aprimoramento da narrativa visual.

Por fim, um passo essencial para quem deseja crescer e se destacar nessa área é experimentar técnicas e compartilhar o trabalho em comunidades de criadores. O universo dos curtas sem diálogos é terreno fértil para inovações estéticas e narrativas, então não tenha medo de ousar: teste diferentes combinações de cor, ritmo, trilha e enquadramentos, observe as reações do público e absorva críticas construtivas. Compartilhe seus roteiros, storyboards ou filmes em grupos de cinema, redes sociais ou festivais amadores. O feedback recebido, além de motivador, oferece perspectivas variadas sobre como suas escolhas visuais estão sendo compreendidas e sentidas.

A estrada para se tornar um roteirista visualmente criativo e sensível é feita de tentativas, revisões e muita troca de experiências. Revisite, questione, melhore — e, acima de tudo, divirta-se com o processo de contar histórias que falam diretamente ao coração do público, mesmo no mais profundo silêncio.


Conclusão

Criar roteiros para curtas sem diálogos é uma experiência transformadora para roteiristas e cineastas. Esse formato proporciona desafios únicos, valorizando cada gesto, expressão e detalhe visual para transmitir emoções profundas e mensagens universais. Entre os principais benefícios, destacam-se a acessibilidade, o alcance internacional facilitado pela linguagem visual, o estímulo à criatividade e a oportunidade de envolver públicos diversos sem barreiras linguísticas.

Ao apostar em histórias contadas apenas com imagens e sons, você mergulha nas origens do cinema e desenvolve um olhar apurado para o potencial narrativo de cada plano e ação. Curtas sem diálogos são exercícios poderosos de síntese, sensibilidade e inovação, capazes de emocionar, surpreender e marcar quem assiste.

Agora queremos ouvir você! Compartilhe aqui nos comentários suas dúvidas, experiências com roteiros visuais ou sugestões de exercícios criativos. Que tal contar para a comunidade qual curta sem diálogo mais te marcou ou apresentar cenas que desenvolveu usando as técnicas deste artigo? Sua participação enriquece a discussão e inspira outros criadores apaixonados pela arte de contar histórias sem palavras.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *